sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Memórias





Ainda é frio.
permaneço aqui dentro,
sozinho
eu e os seres que se ocultam do gélido vento
                                         [que dança lá fora


Me pergunto que seres são esses
mas continuo sem saber - só sei que são.
Existem
Nada pode mudar uma existência coerente
aquilo que não se vê ou toca, mas está lá. Existe.


E eu ainda sou eu
Aqui, ali, lá fora....nas lembranças que navegam
obtusas,
como uma infinita colcha de retalhos


Sento e olho a neve que cai lá fora
e penso em tudo o que aconteceu...


Daquilo que foi e ainda não foi
de minha letra escondida nas
entranhas
do papel amarelado, embaixo de teu travesseiro branco




Penso nessas lembranças, e me deixo levar pela hipnose do espírito


[...]


Mas e tua letra invisível
escondida no oculto de minha derme?...
Meus braços ainda revelam o desnível que teus dedos
deixaram
no último adeus...


Tuas lágrimas prateadas que
- brotavam lentamente -
se tornaram
uma amálgama incompleta
ante a dureza do destino
que foi me levando pra longe...
longe longe dos teus gestos


Mas na distância eu vi em teus olhos
                                        [ um adeus...


Tinha o gosto da fruta que tua boca mordeu
e deixou em cima do quadrado da mesa que
se estendia na sala


Tuas mãos, que esfregavam o vento
 - como um sinônimo de adeus -
me fizeram ver a paz que foi brotando entre nós...


Mas uma paz diferente... aquela que dá um nó
e prende as lágrimas no calabouço da angústia


Lá dentro, no fundo escuro que chamamos de alma,
recaiu sobre mim o peso soturno e amargo da saudade
e vi que tua ausência é uma sinfonia silenciosa
uma pausa de infinitos compassos


Ainda hoje ao longe penso nas declarações
de teus dedos sobre meu corpo, nas declividades
que tuas mãos faziam sobre mim
da mágica de tuas pernas ao arrebatarem minhas
entranhas frágeis...


Ainda lembro...


Da flor silenciosa que prendi em teus cabelos
e de súbito -  e em recíproco -  me soltou
uma pétala...
a pétala que voou, em meio ao teu olhar de "nunca mais" ...


Meus olhos que nada falaram
apenas ficaram como a lagoa que me saudava
mais a frente...
E em minha face
um regato úmido, bordado pelo carmim
que faz força com as órbitas oculares, para enfim
tecer a tristeza da despedida, que brota
na forma de uma cachoeira chorosa da qual
chamamos de lágrima


A noite e o dia travam um batalha silenciosa


A noite vence.


Embora não veja mais teus olhos, tua derme e teu aroma,
que voa longe,
sinto um laço distante, invisível e pueril que se amarra nas
amarras de minhas lembranças
e escrevem dia-dia
na tábula-rasa do meu coração...


A neve cai.
Vejo pelo espelho do vidro um círculo que não pára:
Neve, eu e maçã


Reavivadas por uma sinfonia silenciosa
que insiste em não parar de tocar


Vejo e revejo os momentos que acompanham o "clock-clock"
do relógio da biblioteca


Constantemente sinto esses "seres" que me acompanham:
em um momento uma voz que me pede um beijo,
outrora um sorriso longo, com um som
que ecoa por cada canto que foi seu.


Enfim...


...são só pensamentos...


infinitos pensamentos... retalhos, códigos e sensações
que quase sempre fazem me lembrar das mãos, do adeus,
da fruta na mesa, que ainda não se estragou...


São memórias,
atinadas por você, que ainda está em mim
em algum lugar,
um lugar oculto, que me impede de te achar e de me reencontrar...


um nada
sem
você


Preso a essas memórias


[...]


Eternas memórias...




Autor: Gustavo Mahler

5 comentários:

Flora disse...

Reavivadas por uma sinfonia silenciosa
que insiste em não parar de tocar.

PERFEITO ^^

LyRodrigues disse...

Lindo Gu.

Papéis ONline disse...

Gustavo
eu fico muito muito contente
em pode ler e apreciar a tua poética
tao cheia de novidade
de formas interessantes
que nos entra e nos completa

maravilha amigo
maravilha

Maria Helena disse...

Alguns dias anoitecem sem que tenhamos uma marca que os façam permanecer no hoje da vida. O meu dia de hoje, com certeza, ficará na lembrança como um dia que entrei no twitter e Talles Azigon me apresentou um inesquecível poeta!
Prazer imenso estar aqui!
Parabéns!

Pollyanna Carvalho disse...

Tão triste, emotivo, emoção total em versos, ai ai ai eu adoro esse blog!!!!