segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Solidão acompanhada.













"Sangra a dor.
São três da manhã. Me pergunto ,se, essa tristeza que me atormenta, sairia de mim para vir cair no copo da bebida... bebida que me observa... Bebida destilada.
O odor, que dela sai, me deixa vivo. Há um renascimento em mim a cada gole... Ainda que esteja eu, morrendo como dizem, que seja esta morte: lenta e ao mesmo tempo rápida. Por fim, não existe morte lenta!
Existe,sim, diversas formas de se chegar a uma ceifada. A ceifada final. Isso sim é saber morrer... O segredo de saber morrer é aceitar - que a morte - é uma etapa; etapa esta, que é como a deglutição, eclosão, disgestão e afins.
E o céu, como uma pintura de um quadro negro, me lembra Picasso. A lua me olha da janela... talvez ela pense que eu tbm sou essa pintura inóspita, esse ser "inanimado" que que se embriaga em busca da felicidade, mas sabendo que tudo isso lhe levará a tristezas... profundas tristezas, corre atrás da lenta morte... o caminho mais rápido para a redenção...

A brisa toca meu rosto, o sofá , quase que em ira, tenta me empurrar deste charco, essa lama de inércia que me atola em desídias rotineiras.
Freud estava certo. Há vários "eus" dentro de nós. Que tipo de monstro acordaria dentro de mim?! Se a metamorfose de Kafka estiver certa, o monstro das mudanças. E mudanças nunca são boas no inícios; testam vc até o final, até a uma nova inércia, a uma nova desídia...
E quem sabe, eu não me encontre aqui de novo, atolado em minha covardia o meu fugir de tudo... olhando a lua... matando o tempo para que ele não me mate. Afinal: ele é o maior dos professores. Pena que mata todos os seus alunos.

Desço do 12° andar... encontro mar
Solidão me acompanha... me sinto realmente acompanhado. Há algo , um espectro, um "sei lá o que" que me acompanha e por fim, foi o catalisador desta dialética a moda Saramago.
Acompanhado de meus medos, meus fracassos e meus pessimismos... solidão... solidão, que se acompanha de mim e me rende do vento , do mar que eu observo e das minhas tristezas... solidão que me embala em seus braços como a lua embala o mar em uma terna canção de ninar... um sopro noturno. Solidão... que não me rende só de tudo, mas me acompanha e acima de tudo, me rende de mim mesmo."

Trecho de "Alado" livro 1

Heterônimo: Kritzer