domingo, 29 de agosto de 2010

O Bosque [ primeiras estrofes ]



AURORA

O beijo pela fenda da amêndoa [ desejo ]
O estalar silencioso da folha seca (que guarda teu sussurro passado) [ anseios ]
A gota caudalosa da fruta que percorre as fendas impenetráveis de teus lábios.
Tua saliva morna que penetra em pressa o abismo vertiginoso de meu peito
me prende a você, como as raízes telúricas de um desejo inenarrável.
Se esvaem pela aurora dois objetos cíclicos da criação - do amor - e da vida: nós.

Tua ciranda levanta o pólen que se esvai como um rastro deixado...
Teu bordado enfeita os limiares do meu sonhar e me desperta como a aurora
E então,o sol fastidioso, deixa a lua despojada em saudades,irrompendo em lampejos
sobre as frestas das folhas, com raios fulgurantes, que dançam ao teu redor.
Sol envolve o acastanhado dos teus olhos (olhos que me observam, e me absorvem)
e pouco a pouco, bordo meu ser em tua renda. E me rendo...

Te vejo caminhar como um anjo em seus passos lúdicos
Penso se há em você, noção de que és mais que um ser... de que és MUSA....
E vejo que você nada sabe além do que realmente deve saber.
Deixo meu olhar beijar tua imagem e ao longe observo tua pele sendo beijada pelo sol
observo a flor desejando ser tua vestimenta; o acalanto do teu corpo.
toco seu corpo e ele corresponde (é um sorriso) ... meus dedos gemem...

Quero umedecer tua pele com a quentura de meus lábios
quero que ele seja o motivo de teu olhar vertiginoso...tua agonia e teu êxtase.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Fragmentos






















"O amor é a coisa mais triste, quando se desfaz." Tom Jobim


Eu não poderia levar adiante esta dialética, tampouco, tentar estruturar essa desarmonia que suplantou em teu peito.
Tuas dúvidas, que como a bruma da soturna manhã, se apegam a ti e anuviam teu ser.

E em ti, das mais híbridas ráizes de teu corpo, irrompe-se desalinhos... sementes caóticas de quem é amada, porém, não sabe amar...

E então, vultos incongruentes - de perguntas e respostas - resvalam como navalha no âmago de meu ser... - o que seria isso?...

De uma forma lânguida, a dor saboreia minha agonia.

Vejo nosso mundo ruir. Um castelo de vidro, que perde sua beleza de forma nefasta e burlesca.
Como um arlequim, danço tua ciranda caótica... teu caos... teu desalinho... teu desamor.

Seu sorriso, que sucumbe, dia a dia ante os mais nefastos delírios e devaneios tempestuosos... aquilo que não dá trégua a teu coração.

Não há em mim, palavras,argumentos ou força...

Apenas vejo...
...vejo, com os antigos olhos e me lembro, estes olhos que antes contemplavam tua ternura, hoje contemplam o ruir interno do teu 'eu', que, junto com o meu 'todo', se esvai em fragmentos... os fragmetos de nossos 'nós'.

Ivande a agonia; bate forte o desassossego...

Muito, ou quase tudo a se arrumar.
A tua blusa, que aqui ficou, junto com o branco gravado nela, contrastam com o carmin da fita vermelha que a enfeita, bem do lado do bordado; aquele bordado que me remete a uma canção tua... a canção que você cerrava os olhos para cantar.
A canção que ainda gira - tão cíclica quanto tua valsa desilusória - no teu vinil de jazz. ele guarda a canção...
Ela desabrochava teu sorriso... e fazia tua pele emanar a vida, numa intensidade que se encontra no alvorecer de nossas montanhas, no caldo fresco da maçã madura, que teus lábios estendiam-se de forma lúdica pra saboreá-la. Teu peito se enchia de vida... e você era minha, só minha.

Tudo teu, ainda aqui... em mim.
A candura do sorriso, aparece segundo a segundo em minha memória, e se fortalece, quando observo ele na imagem em pausa, que ficou ali, na esquina do meu quarto, na cabeçeira da cama...
Teu porta-retrato, com suas quinas de um formato quadrado, mas que vai salvar a cíclica imagem de tua alegria.
O teu olhar, que tudo fala no silêncio, e me observa. mesmo quando você não me vê, ele me grita todas suas palavras... - lembranças de você.

Tudo teu repousa ainda em mim...minha pele, ainda sucumbe dia-dia, na ânsia de teu aroma... Tudo ainda lá... escondido no limiar do meu corpo...

Na derme de minh'alma, guardo as sonatas...de teus sonos lúdicos, desenhos rebuscados de teu corpo.

A "busca", o "enfim" e o "despertar". Talvez tudo conjure para o nosso aquecer.

As horas, o tempo e o vento: tudo marca a distância de nós dois.


Teu acalanto, que tanta falta me faz, se converte na gota de um desejo não reparado.

Talvez tudo conjure... quem sabe...?
Tua voz, ainda passa como surto-soturno, daquela nossa tarde. Como um lampejo, lembro da rosa que prendi em teus cabelos.

E o desassossego retorna...

Talvez, o caos organize essa ausência. Talvez a saudade se converta no laço do destino; talvez um dia, o que era tudo, deixe de ser só fragmentos...

... só fragmentos...

Autoria: Gustavo Mahler